Morfina

04 mar

Conheço policiais que não dormem de remorso

E políticos, que para dormir, se entopem de narcóticos

Conheço muitos homens de caráter falho

Esses mesmos homens que roubam o Estado

Conheço líderes confiáveis

E tantas guerras tão intoleráveis

Desconheço homens ricos sem partido

E banqueiros que não sejam bandidos

Conheço presos que pintam bem como Dali

E jovens saltimbancos que não têm como sorrir

Conheço mães que pros seus filhos dão desprezo

E homens que matam e roubam e não são presos

Conheço a adrenalina dos mistérios

E a perplexa vaidade dos cemitérios

Conheço a solidão de quem não tem ninguém para amar

E crianças que adorariam ter alguém para abraçar

Conheço padres que pensam dedicadamente no seu povo

E muitos papas que canalhamente esbanjam muito ouro

Conheço a lua que é só boa para poucos

E tantos bruxos que se entopem de tesouros

Conheço deuses que abençoam o futuro

Conheço bem a altura desse muro

Conheço a dor que grita louca pela rua

Conheço essa raiva que também é sua

Conheço o álcool do dinheiro

E o porre dos sonhos que todo dia perco

Conheço a grave anemia da pobreza

Essa doença não é para quem mereça

Conheço garotas que merecem o meu amor

E o veneno rápido que se esconde em tanta flor

Conheço o brilho das estrelas

E outros brilhos que só trazem dor de cabeça

Conheço a inquietação de muitos negros

E tantas mulheres dignas de respeito

Respeito todas as lutas contra o preconceito

Contra sexo, cor, credo, lado, defeito

Conheço a ira que o povo guarda

E o tom da paz que me agrada

Conheço a indignação que não quer desaparecer

E os limites do limite do que posso fazer

Conheço pessoas que não dormem de remorso

E quero que essas pessoas evaporem de desgosto

Um poema de Wagner Merije

BH, 1995 + dez/2001

Publicado até agora no livro “Cidade em transe” (Aquarela Brasileira Livros)

 

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Merije falando o poema Morfina_Psiu Poético 2015

Merije falando o poema Morfina_Psiu Poético 2015

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